A Rua da Liberdade - Reflexões sobre o Dia da Consciência Negra
- Exercito de Salvação
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Para marcar o Dia da Consciência Negra (20 de novembro), o Major Ebeneser Nogueira compartilha a história da Soldada Helena Monteiro da Costa, filha de um dos últimos escravos da cidade de Santos/SP.

No dia 5 de março de 2025, uma das Soldadas mais antigas do Exército de Salvação celebrou seu centésimo aniversário! Tia Lena, como era conhecida, frequentou fielmente, por várias décadas, as atividades do Exército de Salvação, em Santos/SP, e fazia questão de ir e voltar sozinha para sua casa, na Rua da Liberdade.
Helena era filha de um dos últimos escravos da cidade de Santos, Anísio José da Costa, o Maninho. Ele era negro e trabalhava como ensacador de café. Era famoso por sua força (carregava facilmente duas sacas de café nas costas). Trabalhou até os 108 anos e morreu em 1940, aos 110 anos.
Em abril, Maninho foi homenageado com uma Travessa em seu nome, em substituição ao nome de um dono de senzala. Situada nos fundos do Museu Pelé, entre as ruas do Comércio e Tuyuti, agora diz: “Travessa Anísio José da Costa – angolano, quilombola e trabalhador do Porto de Santos”.

Maninho foi roubado ainda criança, em Angola, e trazido para o Brasil. Foi lavrador numa fazenda de café, em Pindamonhangaba/SP, onde foi bastante chicoteado e vendido para ser escravo urbano na capital paulista. Ainda escravizado, fugiu para o Quilombo do Jabaquara, em Santos, onde viveu até a abolição da escravatura em 1888. No livro de registro do Sindicato dos Ensacadores, o nome de Maninho aparece em 1935. Aos 105 anos de idade, o negro, ex-escravo, de quase dois metros de altura, ainda carregava sacas de café no Porto de Santos, na empresa Procópio Carvalho S/A.
Carregava também as marcas das chicotadas, as marcas do ferro quente e as lembranças dos grilhões. Teve três filhos no primeiro casamento; no segundo, aos noventa anos, teve mais sete filhos. Tocava violão e contava aos seus filhos como era a vida de um escravo.
No dia 23 de abril, Tia Helena foi Promovida à Glória (faleceu), poucas semanas depois do seu aniversário, com 100 anos de idade, o que ela mesma havia expressado como desejo, e chegou lá. Com muita história pesando em seus ombros, mas também com muita alegria de viver, marca registrada de sua família, que deixou na sua descendência Oficiais e Soldados do Exército de Salvação, Tia Helena nos deixou para ir morar naquele lugar onde a cor não mais importa, onde não há chicotes nem grilhões.
Major Ebeneser Nogueira (Chefe Divisional da Divisão do Nordeste)
(Artigo publicado originalmente na revista Rumo edição nov/dez 2025)
Bibliografia:
